Exposição dedicada ao estudo e à exploração de recursos marinhos é inaugurada no Museu de História Natural, em Lisboa.
O ambiente é todo em tons de azul, e da semi-escuridão emergem, sob os focos de luz colocados no percurso, objetos surpreendentes e seres estranhos. Há ali chaminés de fontes hidrotermais que foram trazidas por missões científicas de profundidades imensas e que, cá fora, parecem esculturas; há enormes conchas vazias de mexilhões cor de laranja, bivalves surpreendentes que vivem nesses ecossistemas, ou ainda algumas das rochas baças e ricas em minérios raros dos fundos marinhos. Até um pequeno submarino amarelo, made in Portugal, dos que servem aos cientistas para sondar aquele mundo feito de escuridão e mistério, está lá, em tamanho natural, bem como mapas vários, vídeos e muito mais.
Este é um mergulho nas profundezas do oceano, com a exposição "Mar Mineral", que foi inaugurada em 13/07 no Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC) da Universidade de Lisboa, na Rua da Escola Politécnica, e que durante um ano mostrará esse mundo submerso, mas à luz dos imensos recursos que alberga.
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Uma exposição que quer sobretudo confrontar o visitante com o futuro que está aí a chegar: o das escolhas que vai ser preciso fazer acerca da exploração sustentável e equilibrada desses recursos minerais e biológicos, dos quais dependem as novas tecnologias, como as que integram os nossos telemóveis, os carros elétricos ou as turbinas eólicas, ou os medicamentos do futuro. Para Fernando Barriga, comissário científico da exposição e professor catedrático de geologia da Universidade de Lisboa, essa exploração pode e deve ser feita "sem pegada ecológica, ou quase sem pegada ecológica". E a exposição que comissaria no MUHNAC pretende, justamente, interpelar os visitantes para esse futuro, mostrando a ciência e as tecnologias associadas ao fundo marinho e ao seu estudo científico, mas também as possibilidades tecnológicas que, explorando esses recursos, preservam o seu futuro.
"A mineração do fundo marinho pode ser feita com regras e de forma correta", defende Fernando Barriga, sublinhando que a primeira regra dessa "mineração verde" é a de que todas "as explorações impróprias e insustentáveis têm de ser fechadas".
Na sala que abre a mostra, antes mesmo do mergulho no percurso azul, lá estão os exemplos das nossas máquinas essenciais - telemóveis e computadores, máquinas fotográficas e de vídeo, écrans e radiadores, ventoinhas, torradeiras, lâmpadas...-, cujas tecnologias exigem os chamados minérios críticos, como o cobalto, o lítio, o telúrio ou bismuto, ou as terras raras, com elementos de nomes igualmente raros: neodímio, térbio, dispósio, európio...
Tudo isso, e muito mais, existe inexplorado no fundo marinho e procurar lá esses materiais parece ser o futuro que se avizinha. Por isso, Fernando Barriga e toda a equipa que montou a exposição quiseram lançar esta discussão.
"Considerei que tínhamos condições para pôr a questão nesta perspetiva e esta é a primeira exposição que em Portugal o faz desta forma, mostrando a ciência e as tecnologias que lhe estão associadas", explica Fernando Barriga. Não faltam, de resto, os exemplos de soluções tecnológicas para que essa futura exploração deixe uma pegada mínima no fundo marinho. A deposição de lamas o mais junto possível ao fundo marinho, depois de retiradas para extração de minério, ou a preservação de áreas de intervalo entre outras a ser exploradas são apenas dois exemplos.
Associados à exposição, haverá debates ao longo do ano, aos quais os movimentos ecologistas serão chamados também a dar a sua visão.