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A hora e a vez do magnetotelúrico

O primeiro projeto multiclientes a empregar o método magnetotelúrico (MT) para prospecção no Brasil aconteceu no início deste ano na Bacia do São Francisco (MG).

O levantamento empregou um total de 41 estações (pontos de medição), totalizando quase mil quilômetros de linhas. A campanha realizada entre janeiro e fevereiro deste ano, durou aproximadamente 40 dias. Foram adquiridas duas transectas (perfis regionais), cruzando a bacia nos sentidos Norte-Sul e Leste-Oeste. Os dados estão em fase de processamento e o resultado será oferecido brevemente às empresas interessadas em melhorar a compreensão dessa bacia, que é pouco conhecida do ponto de vista exploratório.

Perfil MT 01, NW/SE, passando por Cristalina – GO, Paracatu – MG, João Pinheiro – MG, Corinto – MG, Diamantina – MG. Perfil MT 02, NE/SW, começando em Lagoa dos Patos, passando por Pirapora, Varjão de Minas e terminando no embasamento no município de Patrocínio, todos no Estado de Minas

“A escolha da área teve a intenção de despertar o interesse de potenciais clientes pelo projeto. A Bacia de São Francisco é uma área de nova fronteira onde uma boa quantidade de operadoras, entre grandes e médias, como Petrobras, Shell, BG, Orteng, Petra Energia e Oil M&S;, detém concessões ali de blocos exploratórios”, afirmou Patricia Lugão, sócia-diretora da Strataimage, empresa carioca de consultoria em geociências, responsável pela iniciativa.

“Nosso objetivo é dar uma informação regional, o que já é uma boa para qualquer operador que tiver ativos naquela área. O projeto não abrangeu todos os blocos da Bacia de S. Francisco, que é muito extensa, mas se houver interesse da alguma empresa, podemos oferecer uma extensão do levantamento mais específico para completar a cobertura da área de interesse. Quisemos mostrar que este é um dado rápido de ser adquirido, não tem impacto e o licenciamento ambiental é muito fácil e rápido de ser aprovado. Os resultados são obtidos rapidamente. Nossa equipe está capacitada para fazer a interpretação e relacionar os dados geofísicos da resistividade com a geologia. Queremos mostrar o valor desses dados. Tem outras bacias que estão na mesma situação.”, complementou Patricia.

Segundo Patricia, a meta da empresa é promover o MT no Brasil e incentivar a comunidade geofísica a incluir o método como uma opção a mais para prospecção em áreas terrestres. Para desenvolver novas frentes de atuação no Brasil, a Strataimage está importando equipamentos de aquisição de dados MT fabricados na Alemanha.

“Queremos ajudar a implantar no país uma cultura que agregue o MT ao conjunto de ferramentas para pesquisa exploratória”, afirma Patricia. O mercado-alvo, segundo ela, são as indústrias de petróleo e mineração.

Embora tenham demonstrado interesse pelas informações proporcionadas pelo método MT, algumas empresas ainda apresentam dúvidas. Segundo Patricia, a intenção da Strataimage não é simplesmente entregar aos clientes apenas os dados processados, mas também agregar explicações aos resultados e interagir com os intérpretes e exploracionistas a fim de aumentar a compreensão e o valor das informações.

O método

O MT não tem a pretensão de substituir a sísmica, mas acredita-se que pode ser utilizado como um recurso prévio. O MT ajuda a aumentar o conhecimento regional da bacia e identificar as anomalias que permitirão, posteriormente, focar melhor os alvos da sísmica.

De acordo com o geólogo e pesquisador do Observatório Nacional Emanuele Francesco La Terra, o objetivo dos levantamentos MT é reunir informações sobre a estrutura geológica, a estratigrafia geoelétrica, o arcabouço estrutural do embasamento da bacia sedimentar. Os focos principais são a espessura do pacote sedimentar, os falhamentos, as intrusões ígneas, os selos, entre outros.

Comparativamente aos levantamentos sísmicos terrestres, o método MT é mais barato. O custo de um levantamento gira em torno de 20% do total da sísmica.  Logisticamente, a mobilização é mais rápida e bem mais simples, pois emprega equipe reduzida. Do ponto de vista ambiental, ainda em comparação com a sísmica, o método MT impacta menos, não requer a abertura de picadas e buracos, uma vez que não utiliza fontes sonoras e dispensa explosivos. A aquisição é feita com fios esticados pela área. O prazo de processamento menor também é uma vantagem do MT. A entrega dos resultados leva bem menos tempo. Além disso, os levantamentos MT podem auxiliar no imageamento de áreas com cobertura de basalto, carbonatos, por exemplo, que apresentam problemas para a sísmica.

A parte mais trabalhosa do levantamento é a instalação das estações. Uma vez instalada, a estação fica em atividade por um ou dois dias, dependendo da profundidade que se deseja atingir com o levantamento. “Quanto mais tempo, dependendo da frequência, maior a profundidade da investigação e maior a qualidade dos dados, por causa da maior redundância. Para um bom levantamento é preciso ser cuidadoso para instalar a estação e fazer a aquisição dos dados. A direção dos eletrodos, atenção com os ruídos culturais, como linhas de força, veículos automotivos provocam ruídos para o método”, explicou Patrícia Lugão.

A Stratimage aglutina especialistas com experiência nesta área, todos de nível internacional com grau de PhD em métodos não-sísmicos.  “Precisamos de uma base matemática forte para utilizar modelagem e inversão no método MT”, destacou o geofísico Berthold Kriegshäuser, contemporâneo de Patrícia Lugão no curso de doutorado da Universidade de Utah (EUA), mesma instituição frequentada por eminentes geofísicos brasileiros. Também faz parte da equipe da Strataimage a estagiária Paula Romero, aluna do 7º período de graduação em Geofísica da Universidade Federal Fluminense.

A utilização do MT é comum não apenas na América do Norte, Europa, Austrália e Rússia, mas também em países vizinhos da América Latina, como Argentina, Bolívia, Peru e Colômbia, onde o método é amplamente empregado na exploração de áreas montanhosas. No Brasil, por sua vez, o MT ainda é um método promissor, pois há muitas bacias de novas fronteiras que ainda apresentam pouquíssimos dados e reduzido nível de conhecimento exploratório. O interesse nas áreas terrestres está aumentando.

Definição

O magnetotelúrico (MT) é um método eletromagnético de prospecção geofísica que utiliza como fonte o campo magnético da Terra. O MT foi  desenvolvido nos anos 1950 pelo francês Louis Cagniard e pelo russo Andrei Tikhonov. Regido pelas leis de indução de Maxwell, o método mede simultaneamente a variação do campo magnético terrestre e do campo elétrico induzido por ele. A partir dos campos elétrico e magnético ortogonais, obtem-se a impedância e um modelo de resistividade elétrica da subsuperfície. (Patricia Lugão)

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